Os mestres no
"Rio de Cima"
Segundo Pedro Amorim – já falecido – seu pai foi
contratado para construir uma canoa de tolda no Médio São Francisco onde a
embarcação recebeu o nome de Sergipana. Também foram muitos os mestres que
foram para o “Rio de Cima”, como é chamado o Médio São Francisco, e não mais
voltaram para o Baixo São Francisco porque, em 1960, a construção de grandes
embarcações nessa região já dava sinais claros de declínio após o surgimento do
caminhão, reforçadas pelo advento das estradas ligando as micros regiões. Dessa
forma os pedidos para novas construções ou reformas de embarcações foram
diminuindo e o ofício de Mestre Naval passando a ter menos interessados na
arte. De mais de quarenta na época passou a registrar contados seis ou oito.
Atualmente registra-se um número considerável de pessoas que dominam a técnica,
entretanto, esse número começou a crescer com o surgimento de novos aprendizes
que assim o fazem por gostar da arte, admiração ou por questões de ofício mesmo
e necessidades. Seja o que for, há o que comemorar.
Dificuldades de
novos aprendizes
No momento atual vive-se a era da tecnologia.
Cada dia mais somos dependentes dela. A tecnologia móvel facilita a vida com um
clique na palma da mão. Os jovens por suas vez são os que mais aderem à elas
buscando percorrer outros caminhos. É nessa linha de pensamento que Mestre Bolo
relata: “Hoje os jovens não querem saber de aprender o ofício. O negócio é
celular conectado na internet [...].”. Bolo tem razão ao expressar seu
pensamento em relação à juventude e nesse contexto iremos observar que, se
antes os motivos para a continuidade do oficio eram a escassez de trabalho,
hoje ela passa ser cultural e intelectual, ou seja, o estado de “ebulição” do
mundo em constantes mudanças imprimem novas visões de mundo, oferecendo
oportunidades e caminhos a seguir e a falta de investimento no espaço da
Cultura. Traduzindo seria: nenhum jovem tem interesse de manusear um serrote ou
plaina se um celular na mão pode lhe condicionar à novas oportunidades e melhor
condições de vida. É um processo natural. O que fazer? É nesse campo que entra
em ação a Cultura, a História, Arqueologia e Políticas Públicas. O interessante
seria manter viva, através de incentivos culturais, a tradição e conhecimento
de como eram construídas as embarcações. Seria um resgate histórico e cultural
e assim manter viva essa parte da identidade do povo do Baixo São Francisco.
Mestre Bolo vem fazendo isso sem saber.
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